Curiosamente, quando eu tirei esta foto foi num momento em que era perigoso reivindicar qualquer coisa. Três pessoas reunidas já poderiam configurar um movimento esquerdista, e sujeito a serem presas e torturadas até a morte.
Mesmo assim lutei ao lado de companheiros que acreditava piamente que estávamos fazendo a LIBERTAÇÃO LATINO AMERICANA. Nossos líderes eram intelectuais, gente culta, capaz de ler O CAPITAL no original.
Imaginávamos que a UTOPIA era possível e que bastava nosso empenho para que fosse instalada.
Os MILICOS seriam enforcados, ou fuzilados, em nome do povo sofrido. E os AMERICANOS DO NORTE seriam expulsos como cães raivosos de nosso território, finalmente LIBERTO.
A LUTA continuou, com companheiros mortos ou desaparecidos. Outros conseguiram se refugiar nos países limítrofes e até mesmo na EUROPA que abriu as portas para os heróis da luta armada.
Pois apenas quarenta anos se passaram. Muito tempo na vida de uma pessoa, mas nada em relação ao tempo da história humana.
Hoje me deparo com aquilo que fizemos, realmente:
• Criamos uma estrutura para NARCO TRAFICANTES
• A Turma do mensalão, que mesmo condenados pela justiça maior do Brasil, continuam á solta e dando as cartas.
• Criamos um sistema onde os cidadãos tem todos os direitos e nenhum dever. Nem de cuidar de si mesmo.
• Criamos duas gerações de analfabetos funcionais, que não conseguem se inserir num mercado de trabalho cada dia mais exigente. Entre outras coisinhas menos evidentes, claro.
Fico agora tartamunhando: E se eu tivesse morrido naquela época? E se eu tivesse continuado na “luta”? Hoje estaria em Brasília, ou em Sampa, dando as cartas como tantos companheiros?
Valeu a pena tanta adrenalina nos enfrentamentos de rua, tantas escapadas das balas certeiras, de delegados ensandecidos, tipo Sergio Paranhos Fleury?
Sei lá. Só sei que minha ideia de lutar para a libertação do povo mudou radicalmente.
Hoje eu vejo que, sem educar duas ou três gerações, nada irá mudar. Ao contrário, o povo continuará cheio de direitos que jamais poderão ser atendidos, pois até pra isso é necessário ter cultura e conhecimento adequado para reivindica-los.
